TEMPOS TURBULENTOS: RISCOS OU OPORTUNIDADES?

Por Dr. Newman Debs
Historiadores tão proeminentes quanto Eric Hobsbawm apontaram, há quase três décadas, que o tempo atual (chamado de pós-modernidade) seria marcado por sua hipercomplexidade. Claramente, o que era então uma tendência agora é realidade.
Às vezes, pensamos que tudo o que se sabia até agora deve ser revisado à luz das novas realidades que surgem: desafios ambientais que nos levam a refletir sobre a sustentabilidade; desafios da vida em sociedade, com as máquinas e sua inteligência artificial como novos intermediários; o futuro das cidades e o papel da Internet; a desinformação e a segurança cibernética como riscos generalizados; o mundo como uma aldeia global.
Os tempos pós-modernos são, ao mesmo tempo, altamente desafiadores e empolgantes. Em tudo o que fazemos, há riscos: para as pessoas, sua integridade e ativos; para os dados, a segurança cibernética e a estabilidade geopolítica; para a reputação, a conformidade; e para os aspectos operacionais e financeiros. Esses diversos riscos constituem, em grande parte, a matéria-prima com a qual os advogados lidam.
Por outro lado, o número de novas oportunidades ao nosso redor é incrível. O fluxo de capital e pessoas ocorre em uma escala sem precedentes (mercado global), enquanto a agenda ESG emerge como um imperativo empresarial. Há também uma crescente conscientização sobre a saúde mental como ideal a ser perseguido, além do avanço de novas tecnologias com alta capacidade e velocidade, que possibilitam o desenvolvimento de novas moléculas, medicamentos, equipamentos de saúde e até o impacto nos serviços profissionais, como a advocacia.
É fácil, em um mundo assim, sentir-se sobrecarregado. Essa realidade exige que os gestores jurídicos reflitam sobre seu papel: qual o equilíbrio ideal entre equipes internas e externas; o que deve ser mantido internamente e o que terceirizar; como estruturar processos de trabalho de forma mais eficiente; e como manter uma comunicação vital para o gerenciamento de mudanças.
Se, por um lado, o advogado interno está mais bem posicionado para conhecer os desafios, planos e ambições da empresa devido à sua experiência e conhecimento das políticas corporativas, por outro lado, o advogado externo geralmente compreende melhor a estrutura jurídica em áreas específicas. Além disso, advogados externos tendem a trabalhar em um modo de resolução de problemas. Essa integração entre equipes jurídicas internas e externas, com perspectivas distintas, gera soluções mais adequadas, harmônicas, ágeis e relevantes para os clientes.
Com tantas e tão rápidas mudanças (as chamadas disrupções), as empresas operam em um verdadeiro ambiente darwiniano: aquelas que se adaptarem mais rapidamente sobreviverão e prosperarão. Por isso, é essencial que equipes jurídicas internas e advogados externos estejam em sintonia, cientes do que acontece em uma perspectiva macro, investigando a cultura organizacional, compreendendo riscos e oportunidades disponíveis e ampliando habilidades técnicas, valorizando a pluralidade de pensamentos e soluções aplicadas em outros contextos.
Por mais contraintuitivo que pareça, os advogados precisam se acostumar a lidar com informações imperfeitas, incompletas e, muitas vezes, contraditórias. É necessário olhar além da mesa de trabalho e compreender que muitos problemas atuais, apesar de não serem exclusivamente jurídicos, geram consequências nessa esfera. Quanto mais os advogados entenderem esse novo paradigma, agindo com flexibilidade, adaptabilidade e senso de urgência, melhor atenderão às empresas para as quais trabalham.
A capacidade de identificar riscos, avaliar probabilidades e magnitude de impactos, comunicar-se claramente, interagir com equipes multifuncionais, oferecer soluções e criar salvaguardas deve compor a estrutura mental do advogado contemporâneo, especialmente o corporativo. Nesse contexto, riscos mal gerenciados ou subestimados inevitavelmente levam à responsabilização.
O advogado tem a oportunidade de atualizar sua prática adotando uma postura de parceiro de negócios, mantendo a mente aberta e ajudando o cliente a encontrar caminhos alternativos. É preciso pensar fora da caixa, viabilizando negócios sem descuidar da segurança jurídica – um equilíbrio que reflete a beleza e a riqueza da profissão.
Há muitas interpretações possíveis para normas jurídicas, e cabe ao advogado explorar os limites, ajudando seus clientes a operar dentro da legalidade, mas fora da zona de conforto competitiva. É nesses limites que se encontram os diferenciais verdadeiramente competitivos.
Em resumo, “mares calmos não fazem bons marinheiros”. Tempos turbulentos, com o reajuste de inúmeras realidades, exigem coragem, mente aberta, solidez técnica, excelentes habilidades de comunicação e muita agilidade. Esse é o perfil do advogado que empresas, escritórios de advocacia e clientes em geral estão buscando.
Portanto, a questão é: nossas faculdades de direito estão atentas a essa realidade? Estão dispostas a contribuir? Além disso, cabe aos advogados investir no desenvolvimento contínuo de suas carreiras, revisitando paradigmas e mantendo sua relevância.
A colaboração entre advogados internos e externos, baseada em uma simbiose rica e coordenada, torna-se uma ferramenta valiosa em um mundo em constante e rápida mudança. Aqueles que percebem e agem dessa maneira estarão sempre à frente.